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terça-feira, 17 de março de 2015

Legado de vida

                                         
                   Sentado à mesa, depois de haver engolido a costumeira merenda, um palito de fósforo no canto da boca, Gonçalo espreguiça o corpo, passa a mão na nuca e deixa as vistas correrem... Olha porta afora, o que lhe permite ver apenas um estreito ângulo do lugar. Seus olhos passam pelo pedaço do terreiro, pelo pomar, e se detêm lá no alto, lá adiante, na cumeeira da pastagem. Verde, tão viçosa que chega a encantar as vistas. Na verdade olha, mas não vê. Sua cabeça está longe. No tempo e no espaço... Divagando, feito alma sem corpo. Que foi feito de sua vida?! Ali, com seus sessenta e poucos anos, corpo moído, sem expectativa que não seja a subsistência... O que aconteceu com seus planos? Onde tudo começou a dar errado?
                   Sonhava ser proprietário! Não queria muita terra, apenas a que bastasse para viver e criar seus filhos, independentemente. Nunca fora ambicioso, talvez aí esteja o erro. Ambição nunca foi traço de sua personalidade, mas submissão, sim. Como era submisso! Subserviente mesmo! Fiel ao patrão como unha e carne... Era seu braço direito. Mais que isso! Era o peão pronto a qualquer hora, em qualquer circunstância, sob qualquer condição. A vontade do patrão era uma ordem! Mais de trinta anos ali. Naquele mesmo pedaço, naquela mesma casa. É certo que muita coisa mudou! Agora tem água encanada, luz elétrica, fogão a gás. Muito mais conforto que há algum tempo. Tempo duro! Água de cisterna, luz de lamparina, fogão de lenha.  Comparada a essa de agora, foi uma vida de animal. O progresso foi tanto que até mesmo linha de ônibus passa na estrada, perto da porteira! Mas, que importa? Pensa na idade... Por quanto tempo ainda conseguirá trabalhar? E depois, onde irá morar?  Nem casa tem!
                   Seus olhos ficam marejados. Sente no peito a aflição da insegurança. Não tem rancor, não guarda mágoa. Na verdade mesmo, nunca se preocupou, nunca parou para pensar nisso tudo. Meneia a cabeça. Esses pensamentos nunca vieram lhe tirar o sossego. Por que isso agora?! Deve ser coisa de velho... Agradece a Deus todos os dias pela saúde de leão que tem. Nestes anos todos, nem gripe conseguiu tirar-lhe a força, o ânimo da lida diária. Mas, a idade é implacável! Ela vem para todos sem que isso possa ser mudado. Parar de trabalhar nesse serviço pesado é inevitável. Faz parte da natureza humana, é assim que vai ser. E depois, o que fazer?
                Dentro de sua cabeça revive, como num passe de mágica, todo o tempo trabalhado. Lembra, com riqueza de detalhes, cada boiada cuidada, cada roça colhida.  Foram tantas as empreitadas que se torna impossível quantificar.
                      E sua velha?! Companheira e cúmplice de todos esses anos. Uma leoa para o trabalho, e uma santa para o trato. Os filhos? Alguns casados, trabalhando nas redondezas, outros partiram em busca de sustento nas cidades. De vez em quando chega uma carta, que o patrão lê. Nem isso Gonçalo consegue! Ele e a mulher são analfabetos de pai e mãe... Nem sempre as notícias são boas. A vida na cidade também está difícil, e pior ainda para seus filhos! São despreparados, nasceram e cresceram no mato. A competição na cidade grande, para eles, chega a ser desumana. Que fazer? Eles escolheram o destino. Volta a pensar em sua velha. Daqui a pouco ela não terá a mesma disposição. Nem poderia ser diferente! É pouco mais nova que ele, é verdade, mas mesmo assim, percebe-se que sua força está na descendente. Gonçalo reconhece seu empenho, relembra saudoso o nascimento de cada um dos seus oito filhos... Dieta era coisa que sua velha não guardava! Paria num dia, no outro parecia estar inteira. Claro que os dois sabiam que não estava tão inteira assim, mas era o costume. Nunca reclamou. Foram anos e anos de alegria, de serenidade. A comida, por mais parca, acrescida com o carinho do preparo, parecia sempre um banquete! Gonçalo agora prende as vistas no terreiro. Sua velha estende a roupa no varal. Não tem a mesma agilidade de antes. Seus movimentos são mais demorados, custa a se erguer quando dobra o corpo para pegar a roupa molhada na bacia. Companheira querida! Se fosse possível, ele lhe daria o céu.
                     Passa a mão pelo rosto, coça os olhos. Essa água que teima em escapar dá-lhe  uma coceira danada nas vistas! Chorar, não! Gonçalo nunca foi dado a chorar. Se bem que há muito tempo não tem motivo para isso. A vida lhe tem sido generosa! Não sabe o porquê, mas hoje parece estar de miolo mole. Coisa de gente velha, só pode ser! Está assim, sentado no mesmo lugar, o palito de fósforo já todo mascado, os cabelos em completo desalinho, tantas as vezes que passou a mão pela cabeça. Nem se dá conta de quanto tempo está ali, perdido em suas divagações... Sobressalta-se quando ouve o som da buzina, e voltando os olhos para a janela, vê o carro do patrão encostando. Num pulo, põe-se de pé e vai ao encontro dele.
        - Gonçalo, o que está acontecendo, homem?!
                Assustado, Gonçalo nem consegue atinar. Sabe que o patrão está estranhando o fato de não ter sido recebido na porteira. Foi, e é sempre assim... Basta ouvir o barulho do carro na estrada, e Gonçalo rapidamente segue em direção à porteira para encontrá-lo. Mas, hoje, não sabe o que aconteceu com sua cachola! Deve estar com algum parafuso solto! Não bastassem os pensamentos que o afligiram há pouco, ainda perdeu o tino e não escutou o ronco do carro do patrão! Faltou com o costume...
                   -  Desculpe, Seu Mateus! Juro pro senhor que não escutei o carro!
                    Se pudesse falar por onde andava seu pensamento, das dúvidas e comichões que lhe fervilharam os miolos! Bobagem, rabugice de velho!
        - Dona Teresa, dá uma chegada aqui!
                    Gonçalo está atrapalhado. A chegada inesperada do patrão, a cabeça atordoada pela retrospectiva, e agora, o patrão chamando a mulher para conversar... É tudo muito diferente! Assusta. Parece que seus pensamentos podem ser lidos, e isso faz com que Gonçalo evite olhar o patrão nos olhos. Não quer que ninguém saiba o que sua cabeça andou matutando. Deus o livre! Não quer parecer ingrato, afinal, seu patrão foi muito bom nestes anos todos! Seu pagamento nunca atrasou, sempre foi bem tratado, tinha relativa fartura ali na fazenda. Não tem mágoa dele, muito pelo contrário! Tem profunda gratidão. Se alguma coisa não saiu como planejara, Gonçalo sabia não ser culpa do patrão. Foi cilada da vida, ou até mesmo resultado da sua falta de expediente. Gonçalo nunca fora atirado. Tem consciência de que as chances devem ser procuradas, nada cai do céu. Ele se acomodou... O salário dava para sobreviver, tinha teto, que mais desejar? A vida para ele era muito simples, pouco lhe bastava...
                    -  Gonçalo, hoje estou aqui numa missão especial!
                    O velho peão não consegue entender nada. Ou melhor, sente um aperto no estômago, um mal estar inexplicável. Será que já não produz o suficiente e o patrão está pensando em substituí-lo?!
                     - Sabe, Seu Mateus, o senhor pode falar claro. Não precisa ficar rodeando...
                     - Está bem, Gonçalo! Vou procurar ser o mais claro possível. Hoje estou aqui para realizar um sonho que carrego e acalento comigo há muitos anos. Você e sua família trabalharam incansavelmente pelo meu progresso. Eu cresci amparado pela sua fidelidade e lealdade. Por inúmeras vezes parei para refletir sobre tanta dedicação. Dedicação que me foi dada espontaneamente, sem exigências e cobranças. Durante todos esses anos tive o privilégio, a grata felicidade de tê-lo como esteio, como alavanca, como parceiro mesmo, nessa empreitada. É hora de retribuir. Se bem que a gratidão não se mostra apenas com recompensas materiais. Nunca poderei retribuir toda a dedicação que recebi, mas sei que Deus se encarregará da outra parte. Resumindo, Gonçalo, eu quero que vocês tenham um cantinho próprio, um lugar onde possam envelhecer dignamente. Retira da pasta uma papelada e a coloca sobre a mesa. Gonçalo está confuso. Entre confuso e emocionado. Entre surpreso e apreensivo. Afinal, apesar de notar o reconhecimento pelo seu trabalho através do respeito, do bom trato do patrão, nunca havia ouvido tantas palavras bonitas!
                    - Gonçalo, aqui está a escritura de compra e venda de uma chácara. Pegada à vila. Tem uma casa muito boa, um pequeno curral, um pomar formado, uma horta vasta e um pedaço de terra pra você cultivar o que quiser. Pode lhe parecer muito, mas não é nem o mínimo de todo o seu mérito, meu bom parceiro!
                    Gonçalo fica como que petrificado. Pálido, as pernas fracas. Não consegue nem raciocinar direito! Só tem força suficiente para jogar o corpo contra o patrão, e dar-lhe um abraço tão continuado que parece traduzir todo o tempo a ele dedicado.
                    - Deus lhe pague! Deus lhe pague, Seu Mateus!
                    Fica abraçado a ele por um bom pedaço de tempo. Quando abre os olhos, Gonçalo vê, por sobre o ombro do patrão, sua velha. Ela, amassando a ponta do avental entre as mãos, chora. Está feliz! Desvencilha-se do abraço do patrão e se volta para ela. Que abraço gostoso! Chega mesmo a erguê-la do chão! Assim, abraçado a ela, percebe que, sem a menor sombra de dúvida, a preocupação que o angustiava poucos minutos atrás, também já havia passado pela cabeça da parceira.
         Seu Mateus fica de lado. Está emocionado, e assiste a tudo com o coração à pele. Afinal, é um sonho que se realiza.
                     - Seu Mateus, desculpa pela pergunta, mas pra quando é isso tudo?
            - É pra hoje, Gonçalo! Vou lhes dar um tempinho, o necessário para se aprontarem. Vamos até à vila cuidar do registro no Cartório, e passamos pela chácara, assim vocês conhecem a nova morada! Depois disso, podem mudar quando quiserem...
                     - Mas, Seu Mateus, e o senhor?! Como fica sem empregado?           
                 - Não fique aflito, Gonçalo! Está tudo resolvido. Também estou parando. Já passei toda a tarefa de comando pro meu filho. E, quanto ao empregado, seu filho Jeremias me procurou. A cidade não deu certo pra ele. Nesta semana mesmo ele volta a trabalhar aqui. Tudo recomeça, meu velho amigo!...


  
Menção Honrosa - Concurso Nacional de Contos de Ponta Grossa-PR - 2014                                                                      

O louco do Faustino

                           
           Começo de tarde massacrante, calor extremo, desalentador...
         Coração amarrado na saudade do meu canto, saudade da casa de minha avó, saudade do sítio de onde nunca imaginei sair.
         Deixo a escola, como de costume, e planos ardilosos correm pela minha cabeça. Hoje, nada nem ninguém conseguirá me impedir. Daqui a pouco boto o pé na estrada e, em menos de duas horas, chego ao meu reduto. Passo a noite lá, bem juntinho de minha avó. Amanhã bem cedo volto com o caminhão do leiteiro, e não perco a hora da escola.
         Devoro a comida numa rapidez assustadora. Aproveito que minha mãe conversa com a vizinha na cerca do fundo do quintal, escrevo um bilhete, deixo do lado do prato e, a passos largos, sigo pela rua principal.
         Logo deixo a vila para trás, e sigo a estrada de terra. Eu caminho quase sempre com os olhos baixos. O sol é forte, e olhar adiante, visualizar aquela estrada imensa, comprida, feito uma serpente vermelha com cauda fina lá em cima, junto à linha do horizonte, desperta um desânimo que deixa as pernas lerdas, pesadas, e faz com que as tiras do chinelo incomodem ainda mais os dedos.
         Pela altura do sol, acho que ainda não são duas horas. Sorrio... Que sensação deliciosa caminhar por esta estrada! É tudo tão familiar, tão cheio de histórias, tão povoado de sonhos! Quantas vezes eu passei por aqui... Mas, só, é a primeira vez. E, talvez por isso, tem o sabor de aventura.
         A figueira grande aponta na primeira curva da estrada. Imensa, majestosa, imponente, secular. A sombra de sua vasta copa é um convite ao repouso, e é nisso que penso agora. Ela é um referencial da estrada. Não há vivente por estas bandas que não a conheça, e que não tenha desfrutado da sua sombra.
        Aperto o passo pensando no conforto de sua sombra, e à medida que me aproximo, percebo alguém encostado ao seu tronco. Quem será?
         Diminuo a marcha... Um arrepio me percorre a espinha. Acho que chego mesmo a parar no meio da estrada. Fixo os olhos, e o sol forte faz com que, instintivamente, eu coloque as mãos sobre a testa.
         É ele... Por que não pensei nisso antes?! Tantas vezes ouvi falar que ele andava por esta estrada, e não fiz conta! Agora, ele ali, parado, encostado no tronco da figueira, braço cruzado sobre o peito, o queixo apoiado numa das mãos...
             O louco do Faustino!
        Minhas pernas tremem, o meu corpo todo treme. Se ao menos tivesse uma roça na beira da estrada, eu me enveredaria por ela até despistá-lo! Mas, que nada... É pastagem dos dois lados!
         Penso em dar meia-volta e sair numa carreira desenfreada. Mas, como?! Estou petrificada, com os pés colados no chão quente da estrada. Não sei se as pernas estão pesadas demais a ponto de não conseguir movê-las, ou se estão leves demais a ponto de não conseguir coordená-las. O que eu sei é que estou paralisada.
         Ele fica me olhando demoradamente, impassível, imóvel. Tão alheio que chego a pensar que, se continuasse a caminhada, eu passaria por ele pacificamente. Esse pensamento enche-me de coragem de tal maneira que quase mudo o passo adiante. A voz de comando já havia partido do meu cérebro quando, de repente, ele, numa cambalhota circense, se coloca no meio da estrada. O susto foi tamanho que por pouco não caio sentada.
         Minha cabeça gira, pensamentos não se encontram, nem consigo raciocinar! Fico tentando imaginar o que o louco estará maquinando.
      Seu rosto é estranho. Maxilar saliente, pele amarelada, ossos proeminentes nas faces carentes de carnes, olhos fundos e com brilho assustador. Seus olhos têm a tristeza dos velhos e o tremular ofuscante de expectativa das crianças. Paradoxal, mas verdadeiro.
        Abre um sorriso largo, o que o deixa ainda mais débil e assombroso. Dentes ele não tem, apenas alguns cacos teimosos grudados às gengivas murchas. O clima é tão apavorante que, além do desconforto, vejo-me encurralada, sem saída. Se tentar correr ficarei em desvantagem, afinal a cabriola que acabei de presenciar, demonstra bem a agilidade que ele tem com as pernas.
         Se pelo menos passasse alguém por aqui! Nem me atrevo a olhar para trás, meus olhos estão presos à figura do meio da estrada.
         Uns dez metros nos separam. Dez metros que, pela nitidez com que enxergo os traços do seu rosto, mais parecem dez centímetros. E o louco continua no meio da estrada...
      Agora seu sorriso se aplaca. Fica sério. Os olhos ganham ar enigmático. Não sei bem se enigmático ou ausente. Tudo é tão apavorante que nem posso compreender.
         De repente, ecoa um som estranho que parece um grunhido, e ele irrompe em gargalhadas. Gargalhadas horríveis, guturais, forçadas. Se não forçadas, pelo menos sem razão aparente, sem justificativa. Gargalha tanto, e tão incontrolavelmente, que chega a semicerrar os olhos, entortando o corpo todo, num esforço desumano.
         Meus pelos estão eriçados. E, como tudo tão estranho que ele faz, num repente, silencia. Passa as mãos pelos cabelos, como se só agora percebesse a quentura do sol, e volta a me encarar. Meus olhos não perdem um movimento. Vigiam cada contração do rosto daquela estranha criatura. Meus olhos, assim como todo o meu corpo, temem e sofrem diante da expectativa daquele “o que virá agora?!”.
         Por que ele é assim?! Será que se chama Faustino, ou esse é o nome do seu pai? Será que ainda tem pai? Tem mãe? Por que tanto desmazelo com seu corpo?
         Todas essas indagações brotam involuntariamente na minha cabeça. Para que me preocupar com isso? O que interessa se ele tem pai ou não? Ainda mais agora, nesta situação?
         O sol deve estar incomodando porque ele passa as mãos repetidas vezes pelos cabelos ensebados indo até à nuca, deixando de fora os cotovelos erguidos, ossudos, que escapam pelas mangas rotas da velha camisa. É extremamente magro. Cadavérico, mesmo!
       Meu susto não poderia ser maior quando o vejo mover os pés. Lentamente, arrastando com os dedos a areia solta da estrada, vem em minha direção. Ele se aproxima, seu rosto fica cada vez maior. Sinto vertigens, mas continuo ali, estática, nem mesmo os braços eu consigo mover! Para dizer a verdade, nem os olhos consigo piscar! Seu rosto está muito próximo. Posso sentir sua respiração ofegante, seu hálito de rapé, o cheiro azedo do seu corpo.
         Para diante de mim. Olha-me, curioso. Sinto-me como um bicho no zoológico, como uma cobaia na mesa de cirurgia. Ele olha demoradamente meus cabelos, meus olhos, meu nariz, meu pescoço. Olha como se estudasse alguma coisa. Depois, vira o corpo e anda em redor de mim. Não posso vê-lo, mas sinto que ele está próximo, muito próximo. Seus pés jogam areia nos meus calcanhares.
         Volta à posição de frente, e olha profundamente nos meus olhos. Ergue o braço e passa a mão, suavemente, pelo meu rosto. Contraio-me toda, não sei se de medo, de nojo, ou de aflição. É horrível!
         Seus olhos são agora incrivelmente límpidos, serenos, mansos. Neste momento não transparecem a loucura que toma conta da criatura. Desce o braço lentamente, e junto com ele as pálpebras, olhando fixamente o chão.
         Gira o corpo sobre o calcanhar e segue, lentamente, rumo à figueira. Vendo-o agora, com o andar arrastado, ombros caídos como se levasse o mundo nas costas, chego a sentir pena.
         Senta-se no barranco, junto ao tronco da velha figueira. Coloca os cotovelos sobre os joelhos, prende a cabeça entre as mãos, e cai num choro convulsivo.
       Posso ouvir os soluços como se ao seu lado estivesse. É um choro sentido, profundo, lúcido, e, pelo que consigo perceber, voluntário. Sente vontade de chorar, e chora...
         Sinto ímpeto de consolá-lo, mas o pavor vivido naqueles poucos minutos é mais forte e me faz retroceder. Melhor mesmo é imitá-lo.
         Giro, então, o corpo sobre os calcanhares, mas não ando. Desato a correr. Corro como se as pernas fossem asas, e só paro quando vejo que estou na entrada da vila.
         Aonde eu ia mesmo?!
         Não sei... E não importa...
         Agora, só quero ir pra casa...

                

Menção Honrosa - Concurso Nacional de Contos de Ponta Grossa - PR - 2014